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“Tratamento de um prolapso uterino”, “Cesariana”, “Cesariana”, “Maria Tudor I de Inglaterra”, “Recém-Nascido nas mãos”

“Tratamento de um prolapso uterino”, “Cesariana”, “Cesariana”, “Maria Tudor I de Inglaterra”, “Recém-Nascido nas mãos”
“Tratamento de um prolapso uterino”, “Cesariana”, “Cesariana”, “Maria Tudor I de Inglaterra”, “Recém-Nascido nas mãos”
“Tratamento de um prolapso uterino” (se. XVI) (Caspar Stromeyer, sec XVI) (Coleção Wellcome), “Cesariana” (sec. XIV) (Iluminura medieval, autor e data desconhecidos), “Cesariana” (1932) (Frida Khalo, 1907-1954), “Maria Tudor I de Inglaterra” (1554) (Antonis Mor, 1519-1575), “Recém-Nascido nas mãos” (1927) (Otto Dix, 1891-1969)s)
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As doenças ginecológicas, por afetarem os órgãos genitais femininos, e por estes estarem intimamente ligados a duas funções vitais, ou seja, a capacidade de poder gerar filhos e o prazer sexual, comportam muitas implicações na saúde física e no equilíbrio emocional, quer diretamente, da própria mulher, quer indiretamente, do seu cônjuge ou companheiro, dado o seu papel simbólico relacionado com esses dois aspetos tão importantes para a vida dos seres humanos. Para além do mais, trata-se de órgãos extremamente irrigados e enervados, pelo que a possibilidade de qualquer doença poder induzir acentuado incómodo ou, mesmo, sofrimento, é muito grande. Os dois primeiros quadros atestam o facto de o tratamento cirúrgico das doenças ginecológicas já existir desde há séculos. O que inclui a intervenção para ajudar a fazer nascer uma criança, quando o parto de termo, por via vaginal, não se podia desenvolver normalmente, sob pena de a mãe e de a criança, correrem o sério risco de virem a morrer, ou a ficarem com sequelas muito graves e permanentes.

Um dos costumes dessa época, quando isto ocorria em famílias social e economicamente muito poderosas ou da realeza, era o de perguntar ao pai da criança, na impossibilidade de se poder salvar ambos, quem este privilegiaria, o que, quando se tratava de um filho varão, levava a que, muitas vezes, a opção recaísse sobre o bébé, com o inerente sacrifício da mulher. O que é, presentemente, uma pergunta e uma decisão completamente impensáveis e inaceitáveis do ponto de vista ético. Contudo, outros costumes horrendos, do ponto de vista pessoal e civilizacional, permanecem nas nossas sociedades, sendo de destacar a mutilação genital feminina, geralmente efetuada antes da puberdade, embora quase nunca por médicos, o que em nada lhe retira essa classificação, pelo que é hoje objeto de uma generalizada campanha de denúncia a nível internacional. Porque, para além de não ser executada para tratar nenhuma doença, e de não ter a autorização consciente e livre do intervencionado, visa impedir as pessoas do sexo feminino de usufruírem, na plenitude, do prazer sexual, como se isso não fosse um direito que as pudesse abranger, tal como às do sexo masculino.

O terceiro quadro é da autoria de Frida Khalo, grande personagem do meio artístico mexicano e universal, simboliza, na perfeição, o seu grande sofrimento físico, e, sobretudo, psicológico, por nunca ter conseguido ser mãe, pois abortava sistematicamente. É que, como os médicos e os doentes sabem, o principal órgão sexual é o cérebro, e as mulheres também engravidam mentalmente, o que, em certos casos de grande desequilíbrio emocional, pode conduzir àquilo que se denomina de “gravidez histérica”, tal como os historiadores afirmam ter ocorrido em 1555, com a primeira Rainha de Inglaterra e da Irlanda, Maria Tudor, a única filha de Henrique VIII (e de Catarina de Aragão) e futura esposa de Filipe de Espanha, que também aqui está representada. A mesma que foi responsável pelo retorno, embora temporário, ao catolicismo como religião oficial do seu país. Nenhuma destas duas mulheres tiveram a felicidade de conceberem qualquer criança, pelo que nunca as suas mãos conseguiram sentir a inesquecível sensação de pegar num filho biológico, como tanto terão sonhado, tal como o génio de Otto Dix nos legou no último dos quadros selecionados, e que é inspirador de um grande e imediato sentimento de incontida ternura.

 

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