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“John Locke”, “Baruch Spinosa”, “Pedro Nunes”, “De humani corpis fabrica”, “Estudos de anatomia”, “Estudo Anatómico”

“John Locke”, “Baruch Spinosa”, “Pedro Nunes”, “De humani corpis fabrica”, “Estudos de anatomia”, “Estudo Anatómico”
“John Locke”, “Baruch Spinosa”, “Pedro Nunes”, “De humani corpis fabrica”, “Estudos de anatomia”, “Estudo Anatómico”

“John Locke” (1697) (Godfrey Koeller, 1646-1723), “Baruch Spinosa” (1665) (autor desconhecido, séc. XVII), “Pedro Nunes” (1843) (Autor desconhecido, sec. XIX), “De humani corpis fabrica” (sec. XVI) (Andres Vesalius, 1514-1564), “Estudos de anatomia” (1509) (Leonardo da Vinci, 1452-1519), “Estudo Anatómico” (1927) (Vieira da Silva, 1908-1992)

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Existe um debate, desde há muitos anos, acerca da natureza da Medicina: Arte ou Ciência, pergunta-se? Possivelmente, direi, ambas! Ou seja, é uma “arte” que aspira a utilizar a metodologia científica e, na realidade, se serve das ditas ciências básicas (biologia, química, física e matemática) para construir o seu edifício identitário. Arte, na capacidade relacional entre o médico e os seus doentes. Arte, na apreciação e contextualização das subjetividades da anamnese na decisão clínica. Arte, na conceção intelectual e estética da arquitetura do diagnóstico diferencial. Ciência, em tudo o resto. Mas, não só. Convém lembrar que, na Grécia antiga, porque os meios tecnológicos eram quase inexistentes e muito rudimentares, o conhecimento obtinha-se através da capacidade de observar e de refletir, fundindo-se, pois, em parte, com a própria filosofia. E, assim, surgiu a ética. Numa fase posterior, procurou adquirir maior identidade e capacidade de entendimento dos fenómenos da saúde e da doença, utilizando o próprio corpo humano como matéria de estudo. E, assim, nasceu a anatomia. Esta a razão por que decidi escolher estes quadros, procurando dar natural destaque, a par das incontestadas figuras estrangeiras que integram o mais relevante património pensante da Humanidade, não deixar de referir o contributo português nestes domínios.

Assim, diria então, muito resumidamente, que John Locke foi, sem dúvida, o médico que justamente maior reputação obteve enquanto filósofo. Dos seus escritos, destaca-se o “Ensaio acerca do entendimento Humano”. Baruch Spinoza era filho de um judeu sefardita Português que se exilou nos Países Baixos. Foi um dos mais notáveis filósofos do seu tempo, tendo dissertado muito sobre “Os afetos”, tal como foi realçado no livro que sobre ele escreveu o grande neurocientista português, António Damásio. Pedro Nunes foi, certamente, dos médicos que maior projeção teve enquanto matemático, desde que o Mundo é Mundo. Era de ascendência judaica, estudou em Salamanca, e, lecionou, na Faculdade de Lisboa, “Moral”, “Filosofia”, “Lógica” e “Matemática”. Deu um decisivo contributo para a epopeia portuguesa dos “Descobrimentos”, quer como cartógrafo, quer por ter inventado o “nónio”, instrumento fundamental para que Portugal tivesse tido tanto êxito naquele enorme empreendimento.

No que concerne à anatomia, é de frisar que existem, logicamente, contributos decisivos de médicos, a começar pelo exemplo do belga Andrés Vesalius, mas também de artistas, tendo o mais importante de todos sido dado pelo genial Leonardo da Vinci, do qual, neste ano de 2019, se comemoram os 500 anos do falecimento, tal como se celebram ainda os 350 anos da morte de um outro grande pintor, talvez o que tenha deixado maior número de registos pictóricos alusivos a temas médicos: Rembrandt von Rijn. Terminaria, recordando que esta disciplina é também obrigatória para os estudantes das Belas Artes, pelo que se apresenta um dos esboços existentes no Museu da Faculdade de Medicina de Lisboa, da autoria de Vieira da Silva, a nossa maior pintora do século XX, que aí fez enquanto estudante.

 

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