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“Miséria e tuberculose”, “Solário”, “O toque real”

“Miséria e tuberculose”, “Solário”, “O toque real”

“Miséria e tuberculose” (1886) (Cristobal Rojas, 1857-1890), “Solário” (1923) (Seijo Rubio, 1881-1970), “O toque real” (1690) (Jean Jouvenet, 1644-1717)

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A tuberculose é outra das doenças que marcou profundamente a História da Medicina e da própria Humanidade, tendo sido responsável pelo dizimar, ao longo de séculos, e, até ao dealbar da II Guerra Mundial, de alguns dos mais ilustres cidadãos de diversos países. A lista dos que adoeceram é imensa, contando-se, entre eles: escritores e filósofos (Emily Bronté, Albert Camus, Gilles Deleuze, Paul Éluard, Franz Kafka, DH Lawrence, Somerset Maugham, Guy de Maupassant, Moliére, Novalis, Eugene O´Neill, George Orwell, Jean Jaques Rousseau, Walter Scott, Robert Louis Stevenson, Dylan Thomas, Henry Thoreau, Voltaire, Immanuel Kant, entre muitos outros); artistas (Eugéne Delacroix, Paul Gauguin, Vivien Leigh, Amadeo Modigliani, Sarah Bernard, entre outros); compositores e músicos (Luigi Bocherinni, Frederic Chopin, Niccoló Paganini, Giovanni Pergolesi, Henry Purcell, Igor Stravinsky, Carl Maria von Weber, Jimmy Blanton, Charlie Christian, Edvard Munch, entre outros); membros do clero (John Calvin, Cardeal Richellieu, entre outros); políticos e membros da realeza (Elisabeth de Áustria, Simon Bolivar, Charles IX, Alexis Tocqueville, Andrew Jackson, Henry VII, Louis XIII e Louis XVII, Nelson Mandela, Napoleon II, Eleanor Roosevelt, Pedro I, Desmond Tutu, Ho Chi Min, Edward VI, entre outros); outros profissionais (Florence Nightingale, entre muitos outros). Embora, na verdade, tenha acometido muitos ilustres personagens, não se deve esquecer que era (e continua a ser), sobretudo, como se ilustra no quadro do grande pintor venezuelano que aqui se apresenta, uma doença predominantemente ligada à pobreza económica e à miséria social, o que nada tem de romântico, embora não tivesse deixado, por isso mesmo, de ser motivo de inspiração para obras deste género literário, como no caso do romance “A dama das camélias” de Alexandre Dumas (filho), ou “A montanha mágica” de Thomas Mann. Durante muito tempo, e até meados do século XX, o sanatório era o local predileto de tratamento, local onde alguns desses livros foram, ou escritos, ou motivo de inspiração dos seus respetivos autores que por lá passaram.

É amplamente sabido que, na atualidade, o âmbito da Pneumologia, como especialidade médica, extravasa largamente a tisiologia, mas há que reconhecer também que foi com o estudo e o tratamento da tuberculose que tudo começou, dada a extraordinária importância epidemiológica desta infeção ao longo de muitos séculos, e que se prolongou até aos nossos dias, em muitas regiões do globo. O denominado “toque real”, era uma prática que se desenvolveu bastante em Inglaterra e em França, e que, admite-se, poderá ter começado nos alvores do segundo milénio depois de Cristo. Era utilizado para curar muitas doenças, mas de uma forma muito particular, a “escrófula” (ou linfadenite tuberculosa), pois acreditava-se que os reis tinham o poder de veicularem o divino poder curativo do próprio Deus, através do simples tocar as mais variadas lesões que fossem patentes nos enfermos que a essas episódicas cerimónias acorriam. Existe uma descrição dessa prática na obra “Macbeth” de William Shakespeare, escrita no início século XVI, mas o introdutor do iluminismo, Voltaire, cerca de dois séculos depois, confessou duvidar fortemente dos seus fundamentos e da sua eficácia.

 

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