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quadros comentados

“Mary Seacole”, “Soldado com um traumatismo craniano”, “Florence Nightingale na guerra da Crimeia”, “Soldado ferido nas guerras napoleónicas”, “Cólera a bordo de um navio”

“Mary Seacole”, “Soldado com um traumatismo craniano”, “Florence Nightingale na guerra da Crimeia”, “Soldado ferido nas guerras napoleónicas”, “Cólera a bordo de um navio”
“Mary Seacole”, “Soldado com um traumatismo craniano”, “Florence Nightingale na guerra da Crimeia”, “Soldado ferido nas guerras napoleónicas”, “Cólera a bordo de um navio”

“Mary Seacole” (1805) (Albert Chalen, 1847-1869), “Soldado com um traumatismo craniano” (1915) (Victor Tardieu, 1870-1937), “Florence Nightingale na guerra da Crimeia” (1856) (Joseph Benwell, 1816-1886) (Coleção Wellcome), “Soldado ferido nas guerras napoleónicas” (1815) (Charles Bell, 1774-1842), “Cólera a bordo de um navio” (1834) (Horace Vernet, 1789-1863)

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A medicina humanitária, estando hoje muito em voga, tem raízes bem antigas na história da Humanidade e esteve sempre ligada, ou aos conflitos bélicos, ou aos cataclismos naturais, a partir dos quais emergiam, frequentemente, as epidemias, tal como ainda hoje se passa. É o que se expressa nestes quadros. Mary Seacole e Florence Nightingale ficaram célebres por se oferecerem para os campos de batalha na Guerra da Crimeia que envolveu o Reino Unido e ocorreu entre 1853 e 1856. Ambas ficaram definitivamente imortalizadas como mestras na arte de cuidar. Victor Tardieu foi um pintor francês que esteve envolvido nos palcos da I guerra mundial, tendo, muitas vezes, para além de deixar um valioso legado pictórico desse grande conflito bélico, sido, nas “horas vagas”, auxiliar de maqueiro, em muitas circunstâncias, tal como se atesta no Museu de Florence Nightingale, em Londres. Charles Bell, foi um notável médico, anatomista e cirurgião britânico, para além de pintor (como se constata), tendo estado ao serviço das tropas do seu país durante as guerras napoleónicas, tal como o grande pintor francês Horace Vernet, o autor do último quadro. Este foi também incumbido de fazer a cobertura iconográfica destes últimos conflitos bélicos, e deixou-nos um retrato impressionante do que foi uma epidemia de cólera a bordo de um navio, doença muito frequente e temida nessa época, e que ainda hoje afeta muitos países com mais débeis níveis socioeconómicos e sanitários, como aconteceu recentemente em Moçambique.

O relacionamento médico-doente, no âmbito do exercício profissional em tão peculiar contexto, para além de ter de procurar respeitar (se possível…) tudo aquilo que é usual exigir-se nas situações clínicas mais usuais, tem a particularidade de poder decorrer entre pessoas sujeitas a um esmagador “stress” emocional, em que a sensação de vulnerabilidade do Ser Humano é aterradora, a exiguidade de meios muitíssimo limitativa, o tempo disponível para cada ato médico. extremamente exíguo, a pressão das circunstâncias e dos circundantes, avassaladora, a comunicação verbal interpessoal, difícil, ou, mesmo, quase impossível, enfim, a sensação que prevalece, será, muitas vezes, a de que o fim da própria vida, e, quiçá, do mundo, pode estar iminente. Podendo, certamente, tudo isto estar presente, num dado momento, isso não implica que falte aquela centelha de humanismo e de bondade, capazes de poder transformar esse, num momento inesquecível para ambos os seus protagonistas. É que há alturas em que aquilo que, noutras circunstâncias, poderia saber a pouco e estar desprovido de qualquer significado digno de registo, pode tornar-se em algo tão precioso, que não há palavras que o possam classificar. Apenas o coração é capaz de entender e a memória dos participantes fazer o correto registo. Para sempre. Tal e qual como dizia o grande aventureiro, escritor e ilustrador Antoine Saint-Exupery “Só com o coração se pode ver bem o que é essencial e invisível aos olhos”.

 

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