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citações comentadas

“A esperança dos homens é a sua razão de viver e de morrer”

André Malraux
Escritor francês, 1901-1976

Capa da revista americana “Time”

Capa da revista americana “Time”

Citação em destaque

André Malraux foi, para além de um dos maiores romancistas franceses do sec. XX, prémio Goncourt em 1933, e ainda um grande conhecedor das artes, um intrépido viajante e uma personalidade que sempre valorizou a decisiva importância dos intemporais valores civilizacionais, tais como a liberdade e a solidariedade. Combatente voluntário na Guerra Civil de Espanha (a mais ionicamente romântica de todas), não hesitou em enfrentar a besta nazi, pagando com isso um elevado preço. Na primeira dessas aventuras, com a própria saúde, pois foi ferido em combate, e na outra, com a privação da liberdade, pois foi parar a um dos inúmeros cárceres onde os acólitos de Hitler levaram a cabo o Holocausto que vitimou, sem piedade, judeus, ciganos, homossexuais, portadores de malformações físicas ou de atrasos cognitivos congénitos, comunistas, republicanos e demais antifascistas. Assistiu também ao dealbar do desmantelamento do império francófono do extremo oriente, bem como ao emergir das lutas sociais que conduziram à revolução maoista no miticamente denominado Império do Meio, tendo também provado do cálice amargo da perda dos seus entes mais queridos, pois a sua esposa e mãe dos seus dois filhos, faleceu num aparatoso acidente, com pouco mais de trinta anos, quando ia a subir para uma carruagem de um comboio e, posteriormente, ambos os descendentes, num fatídico desastre de viação, com uma idade idêntica à que vitimara a sua progenitora.

A citação, sobre a o valor da Esperança, remete-nos pois para algo que está intimamente ligado ao âmago da Condição Humana, não sendo pois por mero acaso que escreveu dois romances precisamente com estes dois títulos, de alguma forma refletindo a sua própria trágica trajetória de vida. Tudo isto serve de pretexto para uma reflexão que se impõe fazer sobre a natureza e os fundamentos do Ato Médico, numa altura em que, com os avanços vertiginosos da tecnologia aplicada ao exercício da atividade médica, emergiu uma parelha diabólica de conceitos que nunca foi tão importante desmistificar: Que, por um lado, por mais avanços que se verificarem, o Homem, se bem que busque subconscientemente a sua imortalidade, vai continuar, por muitos e bons anos, a envelhecer, a adoecer, a sofrer e a fenecer, e que, por outro, nenhum médico está dispensado, mesmo tendo por obrigação ética informar adequadamente o seu doente do prognóstico da sua doença, nunca deve deixar de transmitir esperança, mesmo quando os cuidados paliativos de conforto físico e espiritual são os únicos que é legítimo serem prestados.

O quadro que escolhi para corporizar esta ideia chave da prática médica, é de um pintor latino-americano, filho de um médico, oriundo de uma família muito pobre, que faleceu de tuberculose com pouco mais de 30 anos, doença também por si abordada noutra tela digna de merecido realce. Retratou magistralmente assim, em toda a sua obra pictórica, alguma produzida em França, o drama humano inerente às precárias condições de vida das pessoas e das famílias com que conviveu durante a infância, na sua Venezuela natal, na altura dos conflitos armados que se seguiram à independência desse país. O título, muito alusivo a esta temática, não deixa pois muita margem para outras interpretações, senão a de que transporta uma tocante mensagem de conformação perante uma morte anunciada, numa altura em que, antes da descoberta das vacinas para muitas das infeções que afetam a faixa etária pediátrica, e na era pré antibiótica, a mortalidade infantil atingia proporções gigantescas, realidade infelizmente ainda muito prevalente nalguns países desta nossa aldeia global. Os cuidados espirituais, frequentemente de índole mística ou religiosa são encarados por muitas pessoas, tanto nessa altura, quanto hoje em dia, como o último ato pacificador antes do apelidado “eterno descanso”.

Da esquerda para a direita, respetivamente: “A primeira e última comunhão” de 1888, por Cristobal Rojas, pintor venezuelano, 1857-1890 e “Auto-retrato” de 1887, do mesmo autor

Da esquerda para a direita, respetivamente: “A primeira e última comunhão” de 1888, por Cristobal Rojas, pintor venezuelano, 1857-1890 e “Auto-retrato” de 1887, do mesmo autor.

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