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José Poças, médico e diretor do Serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar de Setúbal, recebe a Medalha de Honra da Cidade na classe Ciência e Tecnologia nas Comemorações do Dia de Bocage

José Poças, médico e diretor do Serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar de Setúbal, recebe a Medalha de Honra da Cidade na classe Ciência e Tecnologia nas Comemorações do Dia de Bocage

Texto do Dr. José Poças para o Livro com edição eletrónica
das Comemorações do Dia de Bocage em 2020

Esta é a terceira vez que recebo uma homenagem de índole semelhante na Cidade que considero minha por adoção: Setúbal. Onde resido há quase 40 anos, onde aprendi a arte do exercício da profissão de Hipócrates e onde criei família. Mas, igualmente, onde me despedi para todo o sempre de alguns dos seus membros que recordo com imensa saudade

A primeira, foi da iniciativa da LAHSB (Liga dos Amigos do Hospital de S. Bernardo), associação na qual exerço presentemente as funções de Provedor da Pessoa Doente.

Depois, pelo Clube “Rotary” de Setúbal, de que não sou associado, mas no qual tenho imensos amigos e doentes, e que já foi presidido por vários colegas meus de quem é justo guardar boas recordações.

E, agora, esta. Hoje. Se é verdade que todas têm muito em comum, não deixa de ser também certo que cada uma tem um significado especial. Na primeira, pretenderam reconhecer o meu lado humano no exercício da profissão que abracei com verdadeira vocação e devoção. Na segunda, no intuito de distinguir e premiar a singularidade de um percurso profissional. Mas o que poderei intuir desta, dado não terem sido proferidos discursos ou ter sido divulgado qualquer texto explicativo? Várias ideias poderia tentar adiantar, em estilo de legítima especulação. Atrevo-me, pois, a adiantar algumas possíveis razões.

Certamente que não por ser um médico competente a cientificamente atualizado, por tal ser um imperativo ético transversal a todos os cultores deste inolvidável mister, tal como foi lapidarmente exarado no Juramento deixado para a posteridade pelo Pai da Medicina.

Nem tanto por ser um Diretor de Serviço diligente e cumpridor que gosta de dar o exemplo de dedicação para, deste modo, poder mais facilmente exigir a consequente retribuição dessa mesma postura aos seus colaboradores e as várias administrações da instituição hospitalar onde trabalha.

Também, certamente que não, por ter sido Coordenador da Comissão de Crise para fazer o combate à recente pandemia do CoVID-19 ao nível do Centro Hospitalar de Setúbal, dedicando-me integralmente a essa tarefa 24h/ dia durante dois inesquecíveis meses consecutivos, pois jamais me veria a recusar tal incumbência perante tão magnânima ameaça coletiva à saúde de todos os presentes na cerimónia de hoje ou a todos os doentes que têm sido assistidos no Hospital de S. Bernardo e que se poderá vir ainda a estender, inclusive, aos demais munícipes e visitantes de uma forma mais ou menos rápida e generalizada, obedecendo uma dinâmica epidemiológica da qual não conhecemos nem dominamos todos os seus determinantes. Como se impõe reconhecer com sincera humildade, independentemente das eventuais graves consequências no presente e no futuro, a um prazo que é de todo impossível que seja calculado com exatidão.

Tampouco por já ter sido Delegado Sindical, Presidente do Distrito Médico de Setúbal da Ordem dos Médicos, ter trabalhado em várias instituições de saúde estatais e privadas, ocupado inúmeros cargos oficiais institucionais e extrainstitucionais, ter três especialidades médicas, ter ajudado a formar muitos internos e especialistas, ter sido membro ou presidente de inúmeros concursos da carreira médica hospitalar, organizado e participado em centenas de eventos científicos, integrado vários projetos de investigação, publicado livros e artigos, ou sido docente de vários cursos e instituições, ou, sequer, por ter proferido dezenas e dezenas de conferências sobre inúmeros temas, pois isso deve ser encarado como sendo perfeitamente normal na vida profissional de um médico nos dias de hoje.

Ainda muito menos por ser um pequeno empresário de turismo, proprietário da Carmo´s Residence Art Apartments situado na baixa da cidade, que prima pela singularidade e o cuidado na arte de ser anfitrião, proporcionando aos seus hóspedes a possibilidade de passarem algum tempo num ambiente cheio de conforto e de personalidade, rodeados de singulares criações artísticas, consubstanciado num projeto carregado de história e afetividade, no qual os restauros foram levados a cabo com todo o esmero por anónimos, mas dedicados artífices locais.

Atrevo-me então a antecipar que terá sido, sobretudo, pela postura cívica de cidadão. Interventiva. Coerente. Livre. Responsável. Acutilante. Baseada nos valores e nos princípios da Ética, da Deontologia, no espírito de Cidadania, no Humanismo e na vontade de bem servir o Bem Comum. Independente de clubes, de associações ou de interesses partidários. Mas, sempre, Política. Com um “P” grande. Porque a Política, assim entendida, é uma atividade das mais nobres de uma Sociedade. Porque, antes de sermos profissionais de algo, somos Cidadãos. E antes de Cidadãos, deveremos assumir a condição de sermos Seres Humanos. E, finalmente, porque ser Médico é, no princípio e no fim de Tudo, sermos capazes de nos imbuirmos daquelas três condições previamente inumeradas. Porque essa é a única maneira em que me vejo exercer clínica e intitular-me orgulhosamente de Médico: Colocando-me na pele do meu doente, inteirando-me da sua personalidade e das suas convicções, compreendendo-as e respeitando-as, dando-me a conhecer também como pessoa, solidarizando-me com a dor de quem observo e trato, tentando minorar o seu sofrimento, sendo assertivo no diagnóstico e adequado na proposta de tratamento. Jamais mentindo, mas sabendo escolher o melhor momento e a melhor forma de transmitir o prognóstico. Quando a doença é ligeira. Quando a enfermidade é transmissível. Quando a morte se aproxima. Quando a deficiência e a dependência se tornam inevitáveis. Mas, sem nunca retirar a última centelha de esperança.

Finalmente, exprimir convictamente duas derradeiras mensagens:

– A primeira, a de constatar que quando se Homenageia alguém, não o fazemos exclusivamente a uma única pessoa. Que seria de mim sem a minha esposa (também médica), os meus filhos, os netos, os pais, o irmão, a restante família, os amigos, os colegas e demais colaboradores, ou sem os doentes que tratei? Certamente uma pessoa muito diferente…

– A última, a de agradecer a quem teve esta amável iniciativa. Foi facilmente constatável a genuína e espontânea emoção da Drª Maria das Dores Meira, Presidente da Edilidade Sadina, de quem recebi a medalha. Foi pena não ter tido a oportunidade de ouvir as suas palavras que acredito, tanto queria ter endereçado a todos e a cada um dos homenageados. Mas, também, que eu não tenha tido a possibilidade de ter dito, certamente num curto improviso, aquilo que agora aqui coloco por escrito. Com igual emoção e reconhecimento por tudo o que muito e de bom fez pela cidade e pela região. Porque também não se é bom político, sem sentimentos ou emoções. Mais do que as ideologias, esta é a condição que melhor distingue os autores das obras em qualquer Sociedade. Assim, também eu estou igualmente grato e reconhecido, pelo que me subscrevo com elevada consideração

Setúbal, 2010/09/15

José M D Poças

Mais informações em: mun-setubal.pt »

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